Bem-vindo, Cariocecus bocagei: um novo dinossauro do Cretácico Inferior de Portugal!
- ge0843
- 15 de set.
- 2 min de leitura
Uma equipa internacional liderada por Filippo Bertozzo (Centro de Paleobiologia e Paleoecologia – Ci2Paleo, Sociedade de História Natural de Torres Vedras, e Museu Real de Ciências Naturais de Bruxelas) descreveu uma nova espécie de dinossauro ornitópode, o Cariocecus bocagei. O estudo foi publicado hoje, 15 de setembro de 2025, na revista científica Journal of Systematic Palaeontology.
Uma descoberta em Sesimbra com 125 milhões de anos
O fóssil (SHN.832) foi encontrado em 2016, na Praia da Área do Mastro (Sesimbra), em depósitos com cerca de 125 milhões de anos. Foi identificado graças ao olhar atento de Pedro Marrecas, um dos coautores do estudo. O exemplar apresentava uma fileira de dentes visível na rocha, mas só após cuidadoso trabalho de preparação pôde ser revelado em detalhe.
O nome Cariocecus evoca uma antiga divindade guerreira venerada na região antes da ocupação romana, enquanto bocagei homenageia o naturalista português José Vicente Barbosa du Bocage (séc. XIX).

O iguanodonte mais completo do Cretácico português
Segundo Bruno Camilo (Ci2Paleo/SHN e Instituto Superior Técnico), este é o crânio de dinossauro mais completo alguma vez encontrado em Portugal. Trata-se de um indivíduo jovem ou subadulto, o que permitiu estudar como os ossos cranianos se fundiam durante o crescimento – informação raramente preservada em dinossauros.
Filippo Bertozzo destaca que este achado “marca a descoberta do primeiro iguanodonte do Cretácico Inferior em Portugal, revelando o papel do país como ponte evolutiva entre os dinossauros do Jurássico Superior e os iguanodontes mais derivados do Cretácico”.
Até agora, apenas espécies mais primitivas tinham sido identificadas no Jurássico Superior português, como Draconyx loureiroi, Eousdryosaurus nanohallucis e Hesperonyx martinhotomasorum.

Uma janela para o cérebro dos dinossauros
A excecional preservação tridimensional do crânio permitiu reconstruir digitalmente o endocasto cerebral, nervos cranianos e ouvido interno do Cariocecus.
“Estamos a abrir uma verdadeira caixa de Pandora sobre a biologia dos dinossauros”, afirma Ricardo Araújo (CERENA/IST e Ci2Paleo-SHN). O estudo revelou detalhes únicos sobre a audição e sobre o desenvolvimento craniano, além de sugerir novas pistas para compreender o metabolismo e capacidades sensoriais destes animais.
O fóssil apresenta ainda uma característica inédita entre dinossauros: a fusão do osso jugal e da maxila, possivelmente uma adaptação para reforçar a mastigação.
Uma peça-chave na evolução dos hadrossauróides
O Cariocecus bocagei é um dos mais antigos hadrossauróides conhecidos, sugerindo que o grupo pode ter tido uma origem euro-africana, e não asiática, como se pensava.
“Esta mistura de características primitivas e avançadas mostra a complexidade da evolução dos iguanodontes no Cretácico”, explica Donald Cerio (Universidade Johns Hopkins).
A investigação contou ainda com a colaboração de Victor Carvalho (Ci2Paleo/SHN), responsável pela reconstrução artística do espécime, bem como de José Carlos Kullberg, Silvério Figueiredo e Pascal Godefroit.
Referência:
Bertozzo, F., Camilo, B., Araújo, R., Manucci, F., Kullberg, J.C., Cerio, D.G., Carvalho, V.F., Marrecas, P., Figueiredo, S.D., & Godefroit, P. (2025). Cariocecus bocagei, a new basal hadrosauroid from the Lower Cretaceous of Portugal. Journal of Systematic Palaeontology. https://doi.org/10.1080/14772019.2025.2536347
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